Sonos & Companhia

Hoje não consigo dormir. Ou melhor, esta noite estou com falta de sono. Ou será de sonhos?
Não! Sonho acordado.
São seis da manhã. Acordei vai para duas horas e não consigo voltar a adormecer. Não que esteja pela cama às voltas, bem pelo contrário. O frio lá fora é imenso e a minha cama é quentinha quanto baste para mal me mexer e me sentir hiper-aconchegado.
Antes de fechar os olhos, na cama, tinha já cumprido um dos meus hábitos de muitos anos, ler. Li umas 20 páginas de um pequeno romance - Na Praia de Chesil - de um escritor que muito aprecio, talvez mesmo o meu escritor preferido, Ian McEwan. Seja como for, pelo menos do escritor que mais li porquanto já levo no currículo quase todos os seus livros publicados em Portugal.
O McEwan é bom homem! Debruça-se sobre as questões de uma forma clara, perspectivando-as sempre a partir de diversoso ângulos. Com ele, a objectividade de opiniões é diversa, vasta até, isto é, depende sempre da cabeça de cada personagem. McEwan consegue mostrar-nos a realidade sem a deturpar, contando-a no seu mais ínfimo detalhe, qual mineiro em busca da sua mais valiosa pepita de ouro. As personagens têm vida própria e saltam do seu pequeno mundo no interior do livro para a nossa realidade emocional.
É certo que nos direcciona na interpretação dos factos mas não obriga nunca o leitor a tomar partido por fulano ou beltrano, conforme a personagem seja mais ou seu gosto ou estilo.
Ainda assim, acordei e não fui ler. A minha companhia primeira foi outra, o chá e as torradas. Uhmmm... Não era fome de leão, não! Era fome de companhia.
E não me apetecia ler.


Pedro Costa (professor)